O meu país abandonou-me há quase um ano.
Bem, para dizer a verdade, já me tinha abandonado há mais tempo...eu é que estava demasiado cega, cega o suficiente para confundir as sombras com a presença de algum apoio, incentivo, motivação...
Já lá vai quase um ano que viajei, com apenas uma mala de mão, cheia de esperanças e desilusões.
Aos poucos, tanto a esperança como as desilusões foram sendo apagadas pelo tempo.
Percebi que isto aqui não era nenhum mar de rosas. Mas, ao mesmo tempo, aquilo que considerava desilusão começava a transformar-se em lições que carregarei para a vida.
Desisti? Senti que sim. Passei por fases de arrependimento e de saudade. Senti-me perdida. Senti-me fora do meu lugar.
Com o decorrer do tempo, ao encontrar um emprego e uma casa para morar, os sentimentos mudaram. Do emprego, um suspiro profundo adveio do fim das enormes dificuldades financeiras. Não sou rica nem vivo desafogada, mas nada do essencial me falta, como no passado tantas vezes me faltara. Do emprego, também, satisfação por fazer uma coisa que gosto, num local que gosto, com pessoas de quem gosto. Fora um determinado energúmeno que assombra esse lado da minha vida, tudo resto decorre relativamente bem e com tranquilidade. Dou o melhor de mim, e sinto-me recompensada, e por isso sou feliz nesse campo.
Do facto de encontrar casa, veio a estabilidade, o encontro do meu espaço, que tanto valorizo. E os amigos, poucos, muito poucos, vão surgindo. Não há tempo para muitos, nem eu o queria. Aprendi há muito que quantidade não significa necessariamente qualidade, e que ai dividirmo-nos demasiado, temos pouco a dar de nós. E eu gosto de dar muito. Confesso que, hoje em dia, dou muito pouco. Vou dando aos poucos, sempre com o medo e a desconfiança no subconsciente. Mas vou dando, devagar, como deveria ter feito sempre. Do facto de encontrar casa, a vida foi-se enchendo. Aquilo que era inicialmente uma pequena mala de mão, hoje é um conjunto de malas enorme; movéis; aparelhos electrónicos; livros, filmes, jogos; cortinados, roupas de cama, pratos, tachos e talheres.
Quase um ano depois, os medos não me abandonaram.
Quase um ano depois percebi que, finalmente, abandonei o meu país. E só faltava isso para poder dizer que estou em casa... A nossa casa é onde nos sentimos bem. Duvido que me sentisse melhor lá, em Portugal, apesar do sol, da praia e do mar. Duvido mesmo que a vida fosse melhor do que é aqui.
Se pudesse ter aqui todos os que mais amo, da família e dos amigos, este sítio seria simplesmente perfeito.
6 comentários:
Finalmente as coisas começaram a andar nos carris como deve ser! Já era tempo miúda. Fico muito feliz por ti e espero uma visita aqui por terras de sua majestade quando puderes.
Gostei de ler este post. Estás a crescer, miúda!
Ainda bem que te sentes assim. Eu ca nao era capaz de ir pra onde estás.
Mas também te digo: mais vale pobrete e alegrete!
Vou pra Africa, pro meio dos pobres :)
A cadela já está aí? Beijinhos
A cadela já está aí? Beijinhos
:)
Força
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